Antes de partir, correndo e trepidando contra o vento os lenços de adeus... retém na retina da lembrança a marca profunda que dançava estática ao som de um perfume já quase esquecido, as sombras mesmas, bem trilhadas pelas pegadas de teus passos, corriam pela estrada de ferro como um arrepio inédito, para assim atualizar em seu rosto as luzes e as cores desvanecidas na marcha progressiva da distância dos vagões...
A gratuidade destas imagens, paga cara as condições capitais da poesia! As imagens, zumbido impertinente do inconsciente em sinestesia, obriga à opressão do peito o atalho fatídico: poesia... serão mais sinceros os caminhos percorridos pela palavra lírica que cem mil trabalhadores da literatura proletária, circulando com versos exatos de aço as margens de impossível contenção, numa aparente rigidez combativa, resistindo ao excesso, à melodia, cavando na própria razão a cova funda de suas sensibilidades mais nobres em favor de um coletivo que prefere derreter em seus músculos feito carrascos o ferro quente da ignorância...E é por isso que volto a me despedir. É lindo e certamente triste, o reencontro consigo, com o silêncio enorme do aceno, desenhando em arcos e vibrando no gesto a lágrima a espreita ao adeus do outro, querido, num mesmo ato de bem-vindas uma outra completude também quase tão companheira como querida, a solidão...
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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Hugão.. estou por aqui lendo e me entusiasmando com seu texto. Me surpreende a facilidade com que és capaz de mergulhar tão profundamente, quase (parece) sem esforço.. quero dizer, suavemente percorre da superfície ao fundo.. e emerge com fôlego!
ResponderExcluirAbraços! Rodrigo
É incrível como consegues transformar a dor da partida na alegria do reencontro. Esse vaivém do rio heraclitiano está presente em teu texto, esse eterno retorno que nos atravessa no instante com toda sua infinitude. beijos mami
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