sexta-feira, 5 de junho de 2009

Asas de meu espírito

Deito as asas de meu espírito nas nuvens suaves que atravessam os séculos, feito descanso de predador planando nas sombras de seu próprio vôo. É alto, alto desejo. Deserto aberto no presídio das pálpebras, aberto o sorriso na imensidão do pensamento em nada. Mas toda ave de rapina desassossega em sua fome de tempos, e a sombra lá de cima começa a se agitar com a ventania, no platô amplo de seus olhos as imagens deslizam velozes e em saltos as presas tardam, um pouco, o inevitável abate... o mergulho rasante não poupará vida.
O corpo então desprende da cama as teias de fadiga a que fora submetido. Corpo que encontra espaço dentro da alma, desafia a queda e estabelece como destino o tortuoso caminho dos versos. A aventura não será fácil: inclinar-se a executar com imagens - sem o uso delas - as imagens oníricas de momentos anteriores. Desenhar o tempo, diluir o espaço no oceano das infindas possibilidades, habitar em contornos invisíveis e efeitos inéditos.
Escrever, atividade nobre. Nobre como a seiva da árvore no bico da calandra que, se chocando nos limites de sua pátria, leva ao lírio, do outro lado do rio, um sistema complexo de nutrientes. Não mais nobre que os dentes trabalhando no almoço sacro do operário. Nobreza como o ato-sacrifício de ensinar. Há uma mágica intrínseca que emana do espírito nobre, atrás dessa mágica apresso as teclas, esticando ao máximo os dedos, roçando o talento, que por natureza, sempre volta a escapar.
As camisas de forças da razão impossibilitam a mobilidade das letras, nada fica com o saber. O saber acaba com a percepção de tudo, com sua contemplação, com tudo que se tenciona em dúvida e com toda a vida que a contradição gera... uma semente a menos nos campos do mundo toda vez que o sábio levanta da terra velhas convicções.... Agora, um astronauta no espaço, joga nas estrelas, uma série de incoerências. É interessante ver a falta de encaixe que há nas arestas únicas de cada luz.
E assim, finco na historia as garras, sigo mudo pelo mundo, rastros de poeira lírica deixo, que mais poderia desejar deixar? Alto, alto desejo. Madrugada adentro o corpo se afoga na cama uma vez mais e a saudades começa apertar... fecho os olhos por um momento, o suficiente pra ele umedecer os sonhos e eu voltar a voar...

Um comentário:

  1. Hugo, eu nunca fui muito boa en Literatura, em traduzir o que os escritores querem dizer.
    Este que você escreveu parece muito interessante mais somente você sabe o que quis pôr.
    Saudaçãos Soledad.

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